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Colônia viking no Canadá pode ter durado mais que o imaginado

por. Thiago Marques
Publicado: Atualizado: 0 comentários 8 minutos de leitura

Uma nova descoberta pode prolongar a duração da colônia viking em L’Anse aux Meadows na Terra Nova, Canadá. A informação é do Ars Technica.


L’Anse aux Meadows (caverna das águas-vivas) na Terra Nova (Newfoundland em inglês) é famosa por seu passado ligado aos vikings. Ali, viajantes nórdicos estabeleceram uma colônia centenas de anos antes que o resto da Europa soubesse da existência da América do Norte.

Juntamente com o Golfo de São Lourenço e os territórios de Nova Brunswick e Nova Escócia, a Terra Nova fazia parte do que Leif Eriksson chamou de Vinlândia (terra das vinhas ou do vinho), segundo a Grœnlendinga saga (Saga dos Groenlandeses) do século XIII. A colônia foi pensada para ser de curta duração. Porém, uma nova descoberta pode prolongar a duração de sua ocupação.

Colônia viking no Canadá pode ter durado mais que o imaginado

Mapa da expedição de Leif Eriksson partindo da Groenlândia e chegando até à Vinlândia | Mapa: Finn Bjørklid | via Wikipedia


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Ao recolher amostras de sedimentos de uma turfa para estudar o ambiente antigo, o arqueólogo Paul Ledger e seus colegas descobriram um capítulo desconhecido na história de L’Anse aux Meadows. Enterrados a cerca de 35 cm abaixo da superfície, encontraram sinais de uma ocupação antiga: uma camada de lama pisoteada, cheia de detritos de madeira, carvão e restos de plantas e insetos.

Com base em sua profundidade e nas espécies de insetos presentes, a camada se parece com superfícies semelhantes às bordas dos assentamentos da Era Viking na Groenlândia e na Islândia. No entanto, o material orgânico da camada foi datado por radiocarbono como sendo do final do século XII ou início do XIII. Isso compreende um período muito posterior ao que imagina-se terem os nórdicos deixado a Terra Nova de forma definitiva.

Colônia viking no Canadá pode ter durado mais que o imaginado

Paul Ledger e Véronique Forbes examinando a camada de solo com os vestígios da ocupação viking | Foto: Linus Girdland-Flink | via Ars Technica

Primeiro contato

Artefatos como um alfinete de bronze para manto, um pedaço de fuso de pedra-sabão para fiação, pregos de ferro e rebites deixam claro quem morava nos oito abrigos cobertos de turfa em estilo islandês em L’Anse aux Meadows. Ferramentas de pedra no local sugerem que os norte-americanos nativos, provavelmente os ancestrais dos povos Beothuk e Dorset, também viveram ou visitaram o local. L’Anse aux Meadows pode ser o primeiro lugar onde os europeus e os indígenas americanos interagiram. Essas interações podem ter acontecido durante 195 anos.

Ledger e seus colegas fizeram uma análise estatística de todas as datações de radiocarbono registradas de artefatos nórdicos no local para calcular as datas de início e fim mais prováveis ​​para a ocupação nórdica. Seus cálculos sugeriam que os nórdicos provavelmente pisaram pela primeira vez em Terra Nova entre 910 e 1030 d.C. e partiram entre 1030 e 1145 d.C. Tais dados indicaram que eles poderiam ter ocupado o local por até 200 anos.

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Representação da culturalmente extinta tribo Beothuk da Terra Nova | via Wikipedia


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Isso significa uma estadia dos nórdicos mais longa na Terra Nova do que os arqueólogos e historiadores geralmente supõem. Porém, a ocupação ainda termina pelo menos 50 a 100 anos antes da recém-descoberta camada arqueológica.

A maior parte do trabalho inicial no local concentrou-se no assentamento nórdico. Por essa razão, Ledger e seus colegas tiveram um tempo mais limitado para trabalhar com artefatos indígenas. A análise estatística retornou resultados muito mais amplos e menos precisos para a ocupação indígena do local, começando entre 710 e 1130 e terminando em algum momento entre 1540 e 1810. Isso é muita sobreposição, o que apoia a possibilidade de interação cultural. Também confirma que os povos indígenas viveram e trabalharam em L’Anse aux Meadows muito antes de os nórdicos chegarem e muito depois de terem partido.

A datação por radiocarbono realizada por Ledger e seus colegas foi publicada nesta semana no periódico PNAS.

Pulgas atrás das orelhas dos arqueólogos

Em muitos aspectos, a camada de solo antigo que sofreu atividade antrópica, capturada no núcleo de sedimentos, parece mais com camadas das bordas dos assentamentos nórdicos na Groenlândia e na Islândia do que as dos sítios arqueológicos pré-colombianos de Beothuk e Dorset em Terra Nova. O carvão e os restos de madeira poderiam ter pertencido a qualquer cultura. Entretanto, o que é realmente interessante são os pedaços de pólen e insetos mortos misturados (ecofatos).

Esses insetos mortos incluem o besouro Simplocaria metallica, que (até onde se sabe) é nativo da Groenlândia, não do Canadá. Na Groenlândia, S. metallica apareceu tanto nas áreas nórdicas quanto nas indígenas, antes habitadas pelos ancestrais do atual povo Inuit. Outro besouro, o Acidota quadrata, nunca havia sido visto em Terra Nova até aparecer no núcleo de sedimentos de Ledger e seus colegas. A espécie vive muito mais ao norte, tipicamente nas florestas boreais e na taiga ao sul do Círculo Polar Ártico.

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C) Insetos e sementes – da (E) para (D): Eanus macullipennis, S. metallica, A. quadrata, Pycnoglypta sp. e sementes de Rumex aquaticus). (D) Pólen – da (E) para (D): tipo H. lupulus, Juglans e tipo cereal. (E) Lascas de madeira. | PNAS


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“A explicação mais simples para esse depósito é a de que ele reflete os detritos gerais (plantas danificadas, outros resíduos orgânicos) que se acumulam onde quer que as pessoas vivam e trabalhem.”

Paul Ledger

A área é atualmente uma turfeira muito úmida e provavelmente era semelhante há oito séculos.

Segundo Ledge, na Groenlândia e na Islândia, os arqueólogos geralmente estudam “as áreas abertas entre construções e o ambiente em torno dos assentamentos”. Já as equipes do Atlântico Norte “tendem a se concentrar apenas nas estruturas em si e não nos seus espaços externos e entre elas”. Ele concluiu que o conteúdo microscópico dessa camada de pântano reflete depósitos semelhantes na Groenlândia, “no entanto, não temos nenhum ponto real de comparação para os sítios indígenas”.

Próximos passos

Quando a equipe de arqueólogos retornar à Terra Nova no próximo mês, eles tentarão mapear até que ponto a turfa se estende em relação às estruturas. Isso exigirá a reabertura de algumas trincheiras escavadas nos anos 1970 e alguns novos poços de teste.

Além disso, Linus Girdland-Flink, da Universidade John Moores, Inglaterra, planeja examinar o DNA das sementes de Rumex aquaticus. Isso poderia lançar alguma luz sobre a origem das sementes, encontradas misturadas ao sedimento e ao detrito. A espécie pode ser nativa da Eurásia, mas também tende a hibridar facilmente. Logo, sem a evidência do DNA, é difícil ter certeza de onde a espécie veio.

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Reconstrução de uma aldeia viking em L’Anse aux Meadow | Foto: Dylan Kereluk | via Wikipedia

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